sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

OS DISCOS MAIS SIGNIFICATIVOS DO ROCK LANÇADOS NO BRASIL NOS ANOS 80 - PARTE 1

BARÃO VERMELHO

O Barão Vermelho iniciou suas atividades no início da década de 80 com Dé (baixo), Maurício (teclados), Guto Gafe (bateria) e Roberto Frejat (guitarra) e por indicação do cantor Léo Jaime incorporaram na formação o vocalista Cazuza, filho do figurão da indústria fonográfica João Araújo. Com uma mãozinha do produtor Ezequiel Neves e o consentimento de Araújo o grupo gravou em 1982 o primeiro álbum da banda de título homônimo, este primeiro trabalho quase passou despercebido não fosse a regravação da música “Todo amor que houver nessa vida” por Caetano Veloso.
No ano seguinte foi lançado o segundo disco, Barão Vermelho 2, e teve como destaque a música “Pro dia nascer feliz”, não sem antes receber uma versão do antigo “affair” do vocalista Cazuza, Ney Matogrosso. O Barão se firmou como grande banda a partir do ano de 1984 com o lançamento do álbum Maior Abandonado, que dessa vez não dependeu de uma forcinha de nenhum cantor consagrado regravando alguma música para que o conjunto pudesse se promover. Com sucessos como a faixa título, “Por que a gente é assim” e “Bete Balanço” essa época marca a saída de Cazuza e a entrada do guitarrista Frejat nos vocais. É justamente com essa formação que indico os melhores álbuns do Barão Vermelho já lançados. Na minha humilde opinião os 3 primeiros álbuns do Barão se (con)fundem um pouco com a carreira solo iniciada por Cazuza em 1985, talvez pelo fato deste ter sido o principal compositor nessa primeira fase do grupo.
1 - CARNAVAL – 1988
O debute de Frejat nos vocais do Barão vermelho aconteceu em 1985 no disco Declare Guerra, que trazia a faixa título como destaque junto com outra faixa “Torre de Babel”. Em 1986 foi a vez do disco Rock´n Geral, último com o tecladista Maurício, que trazia a balada “Me acalmo, me desespero”.
Mas foi mesmo com o lançamento do disco Carnaval em 1988 que o Barão se desvinculou da imagem deixada por Cazuza, o disco foi uma grande “folia” com as músicas “Lente” parceria entre o titã Arnaldo Antunes e o barão Frejat, “Não me acabo” composição dos titãs P.Miklos e A. Antunes, “O que você faz à noite” de Dé e Humberto Gessinger e “Pense e Dance” o maior sucesso do disco. Esse disco também marca a entrada na banda do guitarrista Fernando Magalhães e do percussionista Peninha.

2 - NA CALADA DA NOITE – 1990
O início da década de 90 em termos musicais foi marcado pela diminuição do interesse do grande público pelo rock brasileiro iniciado na década anterior e a definição de quais seriam os artistas que sobreviveriam após aquele “bum”. Agora outros estilos predominavam nas paradas como a Lambada e o Sertanejo. E estava na cara que só restariam dos anos 80 aqueles artistas que haviam produzido algo de qualidade e que tinham o talento de se renovar sem perder a criatividade. Entre as dezenas de artistas que fizeram sucesso na onde do rock brasileiro o Barão foi um dos poucos à demonstrar fôlego para os anos que viriam.
Exatamente em 1990 foi lançado o disco Na Calada da Noite, que trazia várias músicas de sucesso como “Política Voz”, “Tua Canção”, “A voz da Chuva”, “Invejo os Bichos”, “Tão longe de tudo” composição do baterista Guto Goffi e da homenagem “O poeta está vivo”, música dedicada ao ex-vocalista Cazuza que passava por complicações de saúde devido à AIDS, e que viria a falecer nesse mesmo ano.
3 - SUPERMERCADOS DA VIDA – 1992
Em 1992 foi lançado o disco Supermercados da Vida, e esse período marca a volta do rock nas paradas de sucesso de todo o mundo incluindo grandes festivais no Brasil como o Hollywood Rock e aquele rock ingênuo da década de 80 estava definitivamente enterrado. Muitas das bandas que sobreviveram aos coloridos anos 80 agora estavam mais agressivas e/ou introspectivas. Esse disco traz como destaque as músicas “Fúria e Folia”, “Pedra, Flor e Espinho” e ”Flores do Mal”.

BIQUINI CAVADÃO
4 - CIDADES EM TORRENTE – 1986
O grupo foi batizado com o nome “Biquini Cavadão” em meados dos anos 80 por sugestão do cantor da banda Paralamas do Sucesso Herbert Vianna que havia sugerido dois nomes para o conjunto, o outro era “Mamutes de Kart”. Fora a excentricidade de Herbert Vianna para dar nome á bandas, o Biquini Cavadão foi uma das muitas bandas que se beneficiaram com a abertura nas rádios ao rock de cunho muitas vezes engraçado e/ou ingênuo iniciado com a Blitz e os Paralamas do Sucesso entre os anos de 1982-1983.
Em 1986 foi lançado o disco de estréia batizado como Cidade em Torrente, após ter saído no ano anterior o compacto com a música “Tédio”, o disco teve uma boa repercussão com outras músicas como “Timidez” e “No mundo da Lua”. Nesse disco ainda há duas faixas que pouco sucesso fizeram na época, mas eram muitos boas, “Domingo” e “Múmias” essa última um dueto entre o vocalista Bruno Gouveia e o cantor da Legião Urbana Renato Russo.
5 - A ERA DA INCERTEZA – 1987
O segundo disco do Biquini Cavadão não teve uma grande repercussão radiofônica como o anterior, mas foi um dos grandes tesouros perdidos no cenário dos anos 80, foi um dos discos mais bem produzidos com excelentes arranjos e composições, mas que teve como pecado a ausência de uma pegada pop, que era o que imperava nas rádios. Ouçam as faixas “1/4”, “Ida e Volta” e “Tormenta” e veja o que foi perdido e agora você tem o privilégio de “descobrir” aqui no viela10.
6 - DESCIVILIZAÇÃO – 1991
O disco de 1991 precede o álbum Zé de 1989, que não tinha a música “Zé Ninguém” como a maioria pensa e foi um tremendo fiasco em muitos sentidos, mas o ano de 1991 marca a carreira do Biquini Cavadão com o lançamento de Descivilização que foi o auge da banda em todo o território nacional, era impossível não ligar o rádio e ouvir “Impossível”, trocadilho tosco rsrsrs, “Zé Ninguém”, “Cai água, cai barraco” e o megahit “Vento Ventania”.

CAMISA DE VÊNUS
7 - CAMISA DE VÊNUS - 1985
“Ô meu rei, a Bahia não tem só conjunto de axé não!”, em 1985 foi lançado o primeiro disco da banda Camisa de Vênus, a banda que se orgulhava por ser a mais boca suja de sua geração, liderada pelo vocalista Marcelo Nova, o Camisa rompia com o eixo São Paulo/Rio que era de onde provinha a maioria das bandas brasileiras. A mais significativa banda vinda da região nordeste do país era a mais punk de todas, começando pelo nome provocativo que assim como os Sex Pistols nos anos 70 já causava polêmica só pelo fato de ser pronunciada, o Camisa teve muitos problemas por causa do nome e deve ter sido a menos convidada para programas de auditórios, que era o circuito que fazia a diferença na hora de promover um artista.
O primeiro sucesso do Camisa de Vênus foi a música “Bete Morreu” que narrava o estupro seguido de morte da protagonista, “a mais bonita e gostosa, a atenção da escola” berrava que nem um cabrito o vocalista. As rádios tentaram ignorar, mas a molecada ao contrário enchia os shows e comprava o disco. Outra música famosa nesse primeiro trabalho foi “Meu primo Zé”.
8 - BATALHÕES DE ESTRANHOS – 1985
No mesmo ano de estréia o Camisa de Vênus lançou seu segundo disco Batalhões de Estranhos, que foi um tremendo sucesso e teve várias músicas tocadas nas rádios como “Eu não matei Joana D´Arc”, “Lena”, “Ladrão de banco”, “Gotham City”, “Noite e Dia” e “Hoje”.
9 - VIVA - 1986
Em 1986 o grupo estava coçando pra deixar a gravadora RGE e como ainda faltava um disco pra ser gravado encerraram o contrato da forma mais fácil que imaginaram, gravando um disco ao vivo. O disco tinha tudo pra ser um fiasco devido a falta de interesse dos integrantes em fazer algo bem produzido, e esforços pra isso não faltaram, eles marcaram o show que daria origem ao álbum ao vivo na casa de shows Caiçara Music Hall na cidade de Santos em São Paulo e com a montagem do equipamento de gravação em um minúsculo espaço no local eles tocaram uma única vez na noite 08 de Março de 1986 sem direito a repetição para o novo disco. E lançaram no mesmo ao de 86 sem ao menos remixar o disco.
Apesar de tudo, o disco foi um grande sucesso assim como o seu antecessor, a inédita música “Silvia” fez muito sucesso e para terror das meninas que tinham esse nome a repercussão foi similar a que as “Genis” tiveram por causa do Chico Buarque nos anos 70. O grande momento da apresentação foi na música “O Adventista” onde o público cantava em coro com Marcelo Nova o refrão “Não vai haver amor nesse mundo nunca mais”, como se profetizassem o fim do mundo.

CAPITAL INICIAL
10 - CAPITAL INICIAL - 1986
Como a maioria deve saber o Capital Inicial nasceu após o fim do grupo punk brasiliense Aborto Elétrico, que tinha em sua formação Renato Russo (futuro Legião Urbana), Fê e Flávio Lemos. Após o fim do grupo os irmão Lemos se uniram ao guitarrista Lôro Jones e o vocalista Dinho Ouro-Preto e formaram o Capital Inicial.
O Capital Inicial deve muito as bandas conterrâneas Legião Urbana e Paralamas do Sucesso, pois foi aproveitando-se do bom momento que elas passavam que conseguiram com certa rapidez assinar contrato com uma grande gravadora.
Na minha opinião esse foi o melhor e único momento da banda que apesar da inexperiência técnica, que atrasou a produção do disco, conseguiu lançar um primeiro álbum bastante energético, em boa parte graças ao repertório da época do Aborto Elétrico, que foi dividido entre os integrantes ao fim da banda, músicas como “Música Urbana”, “Leve Desespero” e “Fátima” já valem o disco, sem contar que as faixas restantes também são boas. Esse disco é fácil de se ouvir do início ao fim, na minha opinião é o que faz de um disco bom, coisa que a gente não encontra no restante da discografia do Capital Inicial, que geralmente tem uma ou duas músicas que prestam, as vezes nem isso.

CAZUZA
11 - Exagerado - 1985
Cazuza era a cara do Barão Vermelho quando abandonou o grupo em 1985 para iniciar sua carreira solo. Por razões egoístas como ele mesmo disse “de não querer dividir o sucesso com outros”, iniciou essa nova fase da sua vida lançando o disco Exagerado no mesmo ano de 1985. Com músicas como “Exagerado”, que poderia muito bem estar inclusa no disco Maior Abandonado do Barão Vermelho, e “Codinome Beija-Flor” ele deu continuidade sozinho a boa fase que atravessava quando deixou o Barão.
12 - SÓ SE FOR A DOIS – 1987
O segundo álbum solo marca o início do drama com relação á doença da AIDS, que o cantor viria a descobrir ser portador nesse ano. Porém a preocupação só viria a ser constante em músicas do disco seguinte, “Ideologia”. O disco “Só se for a dois” marca pela diversidade nas parcerias, que eram na sua maioria assinadas junto com o ex-parceiro de Barão Vermelho Roberto Frejat. Músicas deste disco que marcaram na carreira do artista, “Só se for a dois”, “Vai á luta”, “Solidão que nada”, “O nosso amor a gente inventa”.
13 - IDEOLOGIA – 1988
A partir desse disco a preocupação com a doença começaram a se refletir em composições como “Boas Novas” que dizia “...eu vi a cara da morte, e ela estava viva” e “Um trem para as estrelas” parceria com Gilberto Gil, também há grandes momentos como “Brasil”, “Faz parte do meu show” e a faixa título “Ideologia”.
14 - O TEMPO NÃO PÁRA – 1989
A morte devido ao vírus da AÍDS só viria a ocorrer em 1990, mas a vontade de viver e produzir levaram Cazuza a registrar tudo o que podia e uma forma de se despedir do público veio através do disco “O Tempo não pára”, gravado ao vivo. As apresentações que envolveram a divulgação desse novo trabalho levou o cantor a presenciar muitas demonstrações de carinho e muitas vezes de pena, pois muitos iam aos shows para “agorar”, como se fosse o último show dele. Esse disco foi marcado pelas dificuldades em relação à saúde debilitada do cantor, mas tornou-se um grande registro ao vivo de um dos artistas que sempre será referência de sua geração. Cazuza nesse disco conseguiu “apossar-se” devidamente de uma música de outro amigo, a música “Vida louca vida” do cantor Lobão, que depois de sua interpretação deixou a música com outra cara, a sua.

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