segunda-feira, 5 de abril de 2010

[DES]COBRINDO O MITO, KURT COBAIN.


Quando se fala de um mito é muito comum os relatos de passagens e feitos que costumam engrandecer ou até mesmo mascarar a real imagem da figura retratada. É muito freqüente, principalmente nos dias atuais, o interesse de admiradores por fatos que mistificam personalidades, que colocam a existência do “ídolo” em um patamar místico, “celestial”, inalcançável.
A indústria em geral nos alimenta dia a dia com novas celebridades, via reality shows, internet e televisão, possíveis candidatos a mitos de amanhã, e ela faz tudo isso com apenas um objetivo, o lucro. O que não consegue-se ver na maioria das vezes é que independente do status de quem quer que seja o “ídolo” ele não passa de uma pessoa normal como a maioria, com qualidades e defeitos e que a elevação de um ser humano a ídolo, independente do que tenha realizado, é praticamente dizer que sua vida é um exemplo a ser seguido.


A música Rock and Roll se originou do Blues e deste gênero incorporou muitas características musicais e comportamentais. O Blues foi um gênero que marcou época pela qualidade de suas melodias e talento dos seus músicos, mas acima de tudo pelos músicos e seus hábitos.
Os músicos de Blues tinham uma característica marcante, além da genialidade musical havia uma forte ligação com a autodestruição, o consumo exagerado de álcool e drogas.
A intensidade pela qual viviam a música se comparava com a que levavam a vida. Houve vários casos de carreiras brilhantes arruinadas por esse estilo de vida. Mas o pior foi essas características terem se tornado quase que obrigatórias para a maioria dos artistas que viveram esse período ou que viriam a viver posteriormente o Blues e principalmente o Rock and Roll.
O Blues deu origem ao Rock and Roll e este por sua vez se dividiu em diversas vertentes. A abordagem musical por muitas vezes foi apresentada de forma diferente e dita “nova” até, mas pouco mudou na essência. O Rock começou de forma básica, com poucos acordes e letras ingênuas, depois foi se sofisticando e técnicas avançadas foram incorporadas as melodias, letras e vocais, mas o Rock sempre voltou a seus primórdios, pois todos esperam duas coisas desse gênero, atitude e agressividade.


Seja um período mais ou menos criativo, o Rock não perde seus estigmas de sofrimentos e finais trágicos. Batizado de “O dia em que a música morreu”, o primeiro desastre de grandes proporções na música pop aconteceu em 1959 com o acidente aéreo que levou a morte três grandes astros em ascensão da época, entre eles Richie Valens e Buddy Holly. Esse acidente marca o início da importância dada a vida dos músicos, acima de tudo ao fim delas, pois foi após isso que surgiu um novo filão da indústria do entretenimento a “necrofilia musical”. Cada vez que morre um artista se inicia uma nova fase em sua carreira, a exposição exagerada de sua imagem e valorização de seu estilo de vida visando o ganho com a venda do catálogo deixado e aquecendo o público para a comercialização de futuro “novo material”.

Esse tipo de abordagem da indústria musical acabou por direcionar as pessoas exclusivamente as tragédias sofridas ao invés de fazer com que se concentrassem principalmente na qualidade do trabalho deixado pelos artistas.
A partir do novo filão comercial criado apareceu um novo tipo de público jovem admirador e/ou aspirante a novas estrelas do rock, aquele que acompanha e cresce achando que astros da música devem se autodestruir e morrer jovens para ter uma carreira de respeito. Assim foi entre os anos 60-70 com Elvis Presley, Jim Morrison (The Doors), Brian Jones (Rolling Stones), Jimi Hendrix, Janis Joplin e outros. Toda vez que se idolatra um músico que morre por causa de acidentes, de overdose e até mesmo por suicídio se perpetua cada vez mais esse estilo desregrado de vida abastado de idolatria, drogas e imoralidades.
Nesse mês de Abril completam-se 16 anos da morte de Kurt Donald Cobain, vocalista da banda Nirvana, o melhor exemplo de alguém que cresceu acreditando nesses “valores”. Aspirante a artista plástico e músico Kurt levou a vida que a maioria dos desafortunados leva, privado de oportunidades, sonhando com o que é mais provável que nunca chegue a ter e acreditando nos valores impostos pela mídia em geral.

Tudo que havia pra ser dito sobre o Nirvana já foi dito, do mérito de Kurt Cobain e seus companheiros, Krist Novoselic (baixo) e Dave Grohl (bateria), que marcaram o inicio de uma época em que não mais importaria apenas ter uma imagem para vender música e sim qualidade somada à atitude, agressividade e sinceridade, ou seja paixão pelo que se faz. Mas, sobre Kurt Cobain nem tudo foi dito, ou pelo menos se evita dizer. Por exemplo, que o mito não corresponde ao homem como na maioria das vezes, talento e insegurança que se alternava com momentos de decisão, amor, rancor, lucidez, sentimentos mal resolvidos em relação a que rumo tomar e em quem confiar. Todos esses e outros sentimentos passavam por sua cabeça, assim como acontece com a maioria das pessoas.

Mas o que se faz sempre que alguém morre de maneira estúpida, como overdose e suicídio, que em minha opinião são praticamente a mesma coisa, é através do sensacionalismo elevar a importância pessoal acima da profissional e artística. Em diversas outras situações é possível identificar esse tipo de acontecimento.
Na política, o indivíduo pode passar a vida inteira sendo acusado e respondendo a inquéritos e processos na justiça a respeito de envolvimento em esquemas de corrupção, enriquecimento ilícito, desvio de verbas, subornos e etc., e quando morre não são raras as vezes em que é tratado como responsável por progressos no país, a “honestidade”, o “compromisso com o povo”, nesse caso também a “obra” deixa de ter relevância.

No geral o que falta é discernimento em relação a tudo o que se ouve e vê, com tanta informação que chega a todos nós o óbvio seria duvidarmos de tudo primeiro pra depois averiguar os fatos e constatar o que é verdadeiro, falso e nocivo para nossas vidas. Mas, infelizmente o que acaba prevalecendo na maioria das vezes é um mundo de costumes perversos que leva cada vez mais pessoas ao fim de maneira [in]consciente e prematura e que depois são usadas como exemplos de sucesso a ser seguido.

Autor: Rampion
Data: 05 de Abril de 2010
Local: Hub city




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